Miragem
- Mônica Ribeiro Neves

- 25 de abr. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de jun. de 2022

"A ciência moderna nos fala de uma extraordinária série de interrelações. Os ecologistas sabem que uma árvore queimando na floresta tropical da Amazônia altera de algum modo o ar que respira um cidadão de Paris, e que o tremor da asa de uma borboleta no Iucatã mexicano afeta a vida de uma samambaia nas Hébridas. Biólogos estão começando a revelar a fantástica e complexa dança dos genes que criam a personalidade e a identidade, uma dança que se estende longe no passado e mostra que cada assim chamada identidade se compõe de um vórtice de diferentes influências. Os físicos nos apresentam ao mundo dos quanta, um meio espantosamente parecido com o descrito por Buda na sua imagem da rede cintilante que se desdobra pelo universo. Tal como as jóias na rede, todas as partículas existem potencialmente como combinações diferentes de outras partículas. Assim, quando olhamos de verdade para nós mesmos e para as coisas à nossa volta que antes tomamos por tão sólidas, tão estáveis, tão duradouras, descobrimos que não tem mais realidade do que um sonho.
No Samadhirajasutra, Buda disse:
Saiba que todas as coisas são assim:
uma miragem, um castelo sem nuvens,
um sonho, uma aparição,
Sem essência, mas com qualidades que podem ser vistas.
Saiba que todas as coisas são assim:
como a lua num céu brilhante
em algum claro lago refletida,
ainda que para aquele lago a lua jamais se moveu.
Saiba que todas asa coisas são assim:
Como um eco que provém
Da música, sons e lamentos,
embora neste eco não haja melodia.
Saiba que todas as coisas são assim:
Como um mágico que fabrica ilusões
De cavalos, bois, carroças e outras coisas,
Nada é como parece.
A contemplação dessa qualidade da realidade em que ela é similar a um sonho não precisa de modo algum nos deixar indiferentes, desesperançados ou amargurados. Ao contrário, ela pode revelar em nós um humor cálido, uma suave forte compaixão que mal sabíamos que existia em nós, e uma generosidade cada vez maior com todos os seres e coisas.”
Trecho extraído do “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer” Capítulo 3, Reflexão e Mudança, de Sogyal Rinpoche. Editora Talento
Crédito: imagem RosAna Reis

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